sexta-feira, 10 de julho de 2009

Da nossa impaciência com os Treinadores - Décio Lopes / Expresso da Bola

Demitir treinadores não é a melhor opção para clubes bagunçados, sem estrutura, sem estabilidade, sem dirigentes profissionais e honestos. A frase já virou lugar-comum e concordo com os mais otimistas: o futebol brasileiro evoluiu neste ponto de uns tempos para cá. Já não se trocam mais de técnicos como quem troca de roupa. Embora a tolerância ainda seja bem pequena e a saída seja sempre muito conveniente ao cartola que, assim, acha outros culpados para o seu fracasso na hora de contratar, planejar e estruturar.
Muito bem, de todo modo, enquanto ainda ouço diversos rumores de que determinados treinadores não resistirão a mais duas ou três rodadas no Brasileirão, dou de cara com alguns dados que ainda têm a capacidade de me estarrecer. Por exemplo? Abri hoje o excelente “Guia Placar 2008/2009 Europeus”. Lá, nas fichas dos treinadores dos principais clubes do velho mundo (e atualizando mentalmente já com os resultados da mais recente temporada), veja só o que eu observei:
* Rafa Benitez, o big boss do Liverpool, tem 5 Ligas Inglesas no currículo. Sabe quantas venceu? Nenhuma.
* Arséne Wenger, que manda e desmanda no Arsenal, tem 14 campeonatos nacionais disputados pelo clube. Ganhou 3. Perdeu, portanto, 11. Sem cair.
* Carlo Ancelotti, que trocou o Milan pelo bilionário Chelsea, deixou para trás 13 Ligas Italianas, disputas por 3 clubes diferentes. Sabe quantas ele ganhou? Uma. E olhe lá…
* O mítico Claudio Ranieri tem 9 campeonatos nacionais italianos em seu currículo, comandando 5 equipes diferentes. Cheio de moral no país da bota, ele nunca levantou o scudetto. Jamais!
* Luciano Spaletti, do Roma, completou sua décima terceira tentativa de vencer a Série A. Todas sem sucesso.
* Alex Fergusson é a grande exceção na lista, acumulando incríveis 24 participações, sempre pelo Man.Utd., com 11 títulos nacionais. Ganhou muito! Mas um detalhe: para levantar a primeira Premiership de sua carreira como treinador principal, Sir Fergusson encarou sete anos seguidos de derrotas, tendo inclusive amargado duas vezes a décima primeira colocaçao e uma vez a pífia décima terceira colocação no campeonato inglês.
Aí eu te pergunto: vc acha que algum treinador no Brasil passaria sete anos no cargo sem vencer? Aguentaria, depois de cinco temporadas no cargo, ficar com a décima terceira colocação? Duvido.
Detalhe: lá eles nem têm os campeonatos estaduais “me-engana-que-eu-gosto” para ganhar um titulozinho de vez em quando e melhorar o astral.
Olhando este breve histórico dos “professores” acima - provavelmente os mais prestigiados e bem pagos do planeta - eu te pergunto: eles teriam a mesma estabilidade aqui nos nossos clubes, com os nossos cartolas (sempre apoiados por suas claques - remuneradas - em diversas torcidas organizadas)? Claro que não.
Isso não chega a ser novidade, mas quando me deparo com dados como os acima expostos, ainda fico chocado.

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